quarta-feira, 2 de abril de 2025

Sarau de Poesia celebra a Palavra 

e evoca Camões

Foi num ambiente de grande envolvimento e compromisso que decorreu o Sarau Poético do Agrupamento de Escolas, uma iniciativa que assinalou o Dia Mundial da Poesia, o Dia Mundial da Árvore e ainda o V centenário do nascimento de Luís de Camões.

A sessão aconteceu no Auditório Municipal, que se revelou pequeno, tal a afluência de alunos, encarregados de educação e familiares em geral, e também de professores e de outros membros da comunidade educativa.

Promovido pela Biblioteca Escolar, em articulação com os Pelouros da Educação e Cultura da Câmara Municipal, o Sarau exaltou a Palavra feita Poesia, bem dita e bem cantada, num exercício de Cidadania que celebrou a Vida e ofereceu aos participantes a oportunidade de partilhar emoções e de aprofundar a reflexão sobre os valores humanistas.

Ao longo de mais de uma hora, uma menina da Educação Pré-escolar e alunos do 1.º Ciclo ao 12.º ano de várias escolas do Agrupamento e ainda familiares e professores fizeram questão de dar voz à Palavra feita Música e Poesia, exaltando a criatividade e a inspiração poética.

Verdadeira Festa da Palavra, o Sarau proporcionou ainda momentos de conjugação perfeita da Poesia e da Música, com alunos da Academia de Música de Ponte da Barca a abrirem (saxofone) e a encerrarem (trompete) o Sarau e a acompanharam alguns momentos de leitura, com fundo instrumental de piano ou violino.

A música esteve também presente na evocação do V centenário do nascimento de Camões (1524-1580), com um grupo de alunos do 6.º ano, sob a orientação dos Professores Daniela Pereira e Paulo Franco (Educação Musical) a interpretaram dois temas alusivos: “Verdes são os campos”, poema musicado por José Afonso, e “Luís Vaz de Camões”, de João Pereira. Outro grupo de alunas dos 11.º e 12.º anos, acompanhado à guitarra pelo professor Osvaldo Martins (EMRC), cantou, por sua vez, “Endechas a Bárbara escrava”.

Nas suas mensagens, tanto o Dr. Carlos Louro, diretor do Agrupamento, como o Dr. Augusto Marinho, presidente da Câmara Municipal, felicitaram os participantes na iniciativa, assim como os seus organizadores, enaltecendo a interação da Escola com a Comunidade e a celebração do poder da Palavra.

Biblioteca Escolar

segunda-feira, 31 de março de 2025

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES

O poder corruptor do “vil interesse” do dinheiro

Nas naus estar se deixa, vagaroso,

Até ver o que o tempo lhe descobre;

Que não se fia já do cobiçoso

Regedor, corrompido e pouco nobre.

Veja agora o juízo curioso

Quanto no rico, assi como no pobre,

Pode o vil interesse e sede imiga

Do dinheiro, que a tudo nos obriga.

 

[…] Este rende munidas fortalezas;

Faz tredoros e falsos os amigos;

Este a mais nobres faz fazer vilezas,

E entrega Capitães aos inimigos;

Este corrompe virginais purezas,

Sem temer de honra ou fama alguns perigos;

Este deprava às vezes as ciências,

Os juízos cegando e as consciências.

 

Este interpreta mais que sutilmente

Os textos; este faz e desfaz leis;

Este causa os perjúrios entre a gente

E mil vezes tiranos torna os Reis.

Até os que só a Deus omnipotente

Se dedicam, mil vezes ouvireis

Que corrompe este encantador, e ilude;

Mas não sem cor, contudo, de virtude!

       Luís de Camões, Os Lusíadas, VIII, 96; 98-99. 

Na parte final do canto VIII d’Os Lusíadas, a permanência da armada de Vasco da Gama em Calecute, na Índia, sofre um revés. Instigados por Baco, os locais revoltam-se contra os Portugueses e, neste contexto, aparece o poder do dinheiro.

O Catual, um alto funcionário público nestas paragens do Oriente, deixa o Capitão regressar às naus e partir em liberdade, mas a troco de um conjunto de mercadorias.

A propósito da narração do suborno do Catual e das suas exigências aos navegadores, o Poeta refere um dos males da sociedade sua contemporânea, orientada para o materialismo, fazendo estas reflexões amargas, de profunda crítica ao poder corruptor do “metal luzente e louro”, isto é, do dinheiro.

“O emprestador e a sua mulher”, Marinus van Reymerswaele
– óleo no painel (Prado, Madrid, Spain / Bridgeman Images).
Disponível em https://www.meisterdrucke.pt/, acedido em 28/03/25. 

Explicando esta passagem, Amélia Pinto Pais escreve que “o ouro e o dinheiro têm, de facto, estranhos poderes, como o de levarem à rendição fortalezas bem munidas; levarem à traição os amigos; fazerem cometer vilezas aos mais nobres; entregar Capitães aos inimigos. O ouro chega a corromper as purezas virginais, a depravar as ciências, cegando os juízos e as consciências. Interpreta mais do que subtilmente os textos. Leva as pessoas ao falso testemunho e torna tiranos os reis. E parece que corrompe até aqueles que se dedicam a Deus; e sempre, sempre, sob capa de virtuoso…”.

O Poeta assume, assim, o seu papel humanista de intervenção, de forma pedagógica, denunciando o “vil interesse” e a sede insaciável do dinheiro, fonte de corrupção e de traições, tanto no rico como no pobre…

Em suma, a cobiça, a ambição e a tirania são honras vãs que não dão verdadeiro valor ao homem e muito menos à Pátria que, à época, nas palavras do narrador, estava metida “no gosto da cobiça e na rudeza / Duma austera, apagada e vil tristeza” (X, 145).

Os ideais que dão acesso ao heroísmo, à glória, à imortalidade, são outros.

Esta é a exortação do Poeta, no final d’Os Lusíadas, uma epopeia intemporal!

A Organização

Fonte: Amélia Pinto Pais, “Os Lusíadas em Prosa”, Porto, Areal Editores, 1995, p. 63.

domingo, 30 de março de 2025

“Escola Segura” debate com os mais novos

uso responsável da internet

“Cidadania Digital – Internet Segura” foi o tema genérico de uma conversa que a Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário da GNR (“Escola Segura”) manteve com os alunos do 4.º ano do Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca.

Ao longo de cinco encontros, o agente Rui Cunha (EB de Entre Ambos-os-Rios e EB de Crasto) e os agentes José Pinheiro e Nuno Freitas (EB Diogo Bernardes) interagiram com os mais novos, chamando-lhes a atenção para as vantagens, mas também para os perigos de um uso incorreto da internet.


Nesta maravilhosa rede global que é a internet, podemos pesquisar e aprender, conhecer o mundo, comunicar mais facilmente e desfrutar de oportunidades de diversão e de lazer. Mas, ao lado destas vantagens, há múltiplos riscos, que têm um impacto muito negativo na vida das pessoas e da própria sociedade.

Sublinhando a importância do controlo parental e a necessidade de um uso seguro e responsável da internet, os agentes, numa conversa muito dinâmica e interativa com os miúdos, assinalaram um conjunto de perigos e insistiram nos cuidados a ter e nos comportamentos adequados ao meio digital:

“Uma vez na internet, sempre na internet” – mesmo que nos arrependamos e apaguemos uma publicação, essa informação continuará sempre disponível e o seu rasto permanecerá. Por isso, toda a atenção é pouca… e, antes de clicar, é preciso pensar;

Nunca comunicar com desconhecidos. Quando não sabemos quem está do outro lado, devemos ignorar. Nunca, nunca responder/ interagir;

Nunca marcar encontros com desconhecidos;

Nunca ceder a ninguém palavras-passe ou dados pessoais;

Nunca deixar sessões abertas;

Estar alerta para os inúmeros perfis falsos.

Um risco que mereceu especial atenção teve a ver com o ciberbullying, isto é, comportamentos repetidos de agressão, ameaça, intimidação ou outra interação com o objetivo de causar dor, vergonha, medo e/ou desconforto na(s) vítima(s). Em situações desta natureza, importa evitar a interação com o agressor e denunciar o caso junto das autoridades e/ou pedir ajuda aos adultos, tais como pais e professores.

O perigo do vício do jogo

Outra situação analisada em pormenor foi o jogo online e os riscos que este comportamento pode acarretar, nomeadamente em termos de dependência/ viciação.

É fundamental ser capaz de colocar limites, de tal modo que seja sempre eu a controlar o jogo e nunca aconteça ser o jogo a controlar-me a mim, eis a mensagem central deixada pelos agentes.

Até porque – sublinharam –, a dependência do jogo tem um impacto muito negativo na vida das pessoas e na sua saúde, provocando falta de descanso, alimentação inadequada, desconcentração, agressividade e violência.

Quando jogas, joga com segurança, presta atenção ao que partilhas, pensa sempre antes de clicar, sê educado e respeita os outros e as suas diferenças, não respondas a provocações e partilha com os teus pais o que fazes na internet.

Estes encontros aconteceram ainda no âmbito da celebração do Dia da Internet Mais Segura (11 de fevereiro) e resultaram de um trabalho articulado entre a Biblioteca Escolar, o Grupo de Informática (550) e a Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário da GNR (“Escola Segura”).

A Organização

quarta-feira, 26 de março de 2025

Semana da Leitura entusiasma os mais novos

Encontros com autores, partilhas de leitura de estórias com ilustrações, poemas e lengalengas, dramatizações, animações musicais e cinema foram algumas das atividades que deram vida à Semana da Leitura que, de 17 a 21 de março, mobilizou a Educação Pré-escolar (EPE) e os 1.º e 2.º Ciclos do Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca.

Promovida pela Biblioteca Escolar, em articulação com os Departamentos da EPE, do 1.º Ciclo e de Expressões, a Semana envolveu famílias, alunos e professores, proporcionando um conjunto de experiências significativas no âmbito do livro e da leitura, com o aprofundamento da apetência pelo universo literário e artístico em geral.

O ambiente festivo foi oferecido pelos momentos dinamizados pelos docentes de Educação Musical, Daniela Pereira e Paulo Franco, e ainda pelo professor Osvaldo Martins (EMRC), cantando com os alunos músicas alusivas a Camões, à primavera e ao Dia do Pai.

Logo na segunda-feira, a autora Marisa Cambão visitou as EB de Crasto, Entre Ambos-os-Rios e Diogo Bernardes, onde, a partir da sua obra “As viagens da Nina”, desenvolveu uma interação criativa com os mais novos, centrada na importância de uma alimentação saudável, para crescer com um coração forte.

No último dia, foi a fez de Sandra Lima visitar a EB Diogo Bernardes, para uma animada conversa à volta dos afetos, dos sentimentos e das vivências, tendo como referência e inspiração as suas obras “Diário de uma marioneta e outros contos de fantoches” e “De onde vêm os abraços?”.


Ao longo da Semana, foi muito importante a participação das famílias, pois ajudou a fortalecer o vínculo com a leitura e reforçou esta prática como um trabalho conjunto, que vai para além das portas da sala de aula.

Em termos globais, a Semana da Leitura traduziu-se num balanço muito positivo: celebrou a leitura como ferramenta de aprendizagem, de partilha e de união; proporcionou momentos de reflexão; despertou/ aprofundou o gosto pelo livro e pela leitura; aplaudiu manifestações artísticas como a literatura, a música, o teatro, o cinema e a expressão plástica; fomentou a conexão entre todos os envolvidos; contribuiu para um ambiente mais enriquecer, inspirador e transformador.

A Organização

terça-feira, 25 de março de 2025

V CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE CAMÕES

Verdes são os campos”

Verdes são os campos,

De cor de limão:

Assim são os olhos

Do meu coração.

 

Campo, que te estendes

Com verdura bela;

Ovelhas, que nela  

Vosso pasto tendes,

De ervas vos mantendes

Que traz o verão,

E eu das lembranças

Do meu coração.

 

Gados que pasceis

Com contentamento,

Vosso mantimento

Não no entendereis;

Isso que comeis

Não são ervas, não:

São graças dos olhos

Do meu coração.

Luís de Camões, Lírica, fixação do texto de Hernâni Cidade, Lisboa, Círculo de Leitores, 1980, p. 107.

Esta é uma conhecida cantiga do ciclo da “menina dos olhos verdes”, em que o poeta exalta a beleza da mulher amada e realça a ideia de que a verdura que o gado pasta é a graça dos olhos que lhe enche o coração.

Num cenário bucólico, com a paisagem a ser utilizada como uma metáfora para os sentimentos, o sujeito poético compara os olhos da amada ao verde dos campos, dizendo que estes são como os olhos do seu coração. E assinala que, tal como as ovelhas e os gados, também ele se alimenta, não da “verdura bela” das ervas, mas, isso sim, das memórias da sua amada.

Aliás, a recordação feliz, ainda que saudosa e nostálgica, da amada chega ao ponto da sintonia perfeita do “eu” lírico com os gados que pastam, com contentamento:

“(…) Isso que comeis

Não são ervas, não:

São graças dos olhos

Do meu coração”.

Neste ambiente de exaltação e de vassalagem da amada, dir-se-ia que a Natureza é bela na medida em que participa das belezas da senhora.


O canto dos olhos verdes traduz, por outro lado, uma forte originalidade. De facto, à época, o ideal da beleza feminina considerava que os olhos mais belos eram os azuis.

Acontece que diversos poemas de Camões são dedicados a uma destinatária de olhos verdes, uma situação que “originou várias especulações biográficas”. Segundo Maria de Lurdes Saraiva, “com segurança, só se pode afirmar que essa amada de olhos verdes era de extrema juventude, uma criança que começava a entrar na vida”.


Com a primavera de 2025 a dar os primeiros passos, apetece ler e ouvir e cantar a simplicidade e a beleza do amor, num ambiente bucólico.

“Verdes são os campos” é um poema que Zeca Afonso musicou e cantou. Faz parte do álbum Traz outro amigo também, editado em 1970. E, desde então, conheceu várias interpretações…

Vamos ouvir a versão original: Zeca Afonso, “Verdes são os campos”, de Luís de Camões.

Boa primavera! Viva a poesia…

Fonte: Luís de Camões, Lírica Completa I, prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1980, pp. 160 e 166.

A Organização

terça-feira, 18 de março de 2025

À CONVERSA COM MARISA CAMBÃO

As viagens da Nina e a importância 

de uma alimentação saudável 

A importância de uma alimentação saudável, apostando, entre outros aspetos, na redução do consumo do sal, esteve no centro de uma animada conversa que Marisa Cambão manteve com as crianças da Educação Pré-escolar e do 1.º Ciclo das Escolas Básicas de Crasto e de Entre Ambos-os-Rios e ainda com os alunos dos 3.º e 4.º anos da EB Diogo Bernardes.

Partindo da sua obra “As viagens da Nina”, com ilustração de Sara Costa, a autora – que também é enfermeira, doutorada em Biotecnologia da Saúde com especialidade em Epidemiologia e Saúde Pública – orientou os mais novos numa interessante aventura pelos reinos de Natrium e de Kalium, na companhia da Nina e do Mestre Sabichão, ajudando-os a aprender a crescer com um coração forte e saudável.

O encontro, que resultou das diligências efetuadas pela Professora Julieta Mendes junto da autora, integra-se nas atividades organizadas pela Biblioteca Escolar para a Semana da Leitura, uma iniciativa que, até à próxima sexta-feira, está a proporcionar experiências significativas neste domínio, tais como sessões com autores, animação musical, cinema, partilhas de leitura e dramatizações.

Biblioteca Escolar